O CONVITE DE JESUS PARA AMAR OS NOSSOS INIMIGOS – UMA AVENTURA REALÍSTICA OU NÃO?
Primeira leitura: 1 Coríntios 8: 1-7,11-13
Salmo responsorial: Ps. 138 (139): 1-3,13-14,23-24
Leitura do Evangelho: Lucas 6: 27-38
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Nossa era pós-moderna é tristemente caracterizada por grande violência, malícia, terrorismo, guerras, crescentes processos e contra – processos, assassinato, ódio (e, claro, discursos de ódio), busca egoísta de riqueza e poder, corrupção, individualismo, consumismo, preconceito, racismo, tribalismo, etc., de tal forma que fica difícil para o verdadeiro amor encontrar seu caminho no espaço aéreo e no coração dos homens. Isso também explica por que a mensagem de hoje é o amor, compaixão e tolerância (especialmente para “inimigos”) se torna um desafio muito difícil para nós. Na verdade, parece expressar um idealismo totalmente irreal e inatingível. No entanto, ao procurar seguir o caminho do “Mestre” cujo nome levamos (Cristãos), as leituras de hoje representam um grande desafio para nós vivermos os valores evangélicos da caridade incondicional, compaixão, tolerância, modéstia e, acima de tudo – praticar o amor pelos inimigos.
A partir do evangelho, São Lucas apresenta o ensinamento de Jesus, que Ele mesmo praticava, diz: Amar aos inimigos, fazer o bem aos que nos odeiam, abençoar aqueles que nos amaldiçoam, orar por aqueles que nos maltratam, ter um espírito bondoso, etc. Resumindo, Jesus apresenta a Regra de Ouro, que muitas vezes é expressa como “Não faça aos outros o que você não gostaria que eles fizessem a você”, e expressa em termos positivos: “Trate os outros como gostaria que fosse tratado.” Este ensinamento foi apresentado no contexto do relato de Lucas sobre as “bem-aventuranças” e suas correspondentes “desgraças”, consolando os pobres e marginalizados na sociedade com um “futuro” de felicidade. Os pobres eram marginalizados pelos ricos a ponto de nutrirem fortes sentimentos de ódio, desprezo, amargura, retaliação, etc, em relação aos ricos que eram considerados seus “inimigos”. Para dar sentido às bem-aventuranças, Cristo acrescenta a mensagem de amor, tolerância, compaixão, modéstia, caridade, etc.
Sem dúvida, este ensinamento parece irreal em nossa época, de tal forma que requer a incrível graça de Cristo para vivê-lo. No entanto, Jesus não está nos pedindo para fazer algo “antinatural”. Não queremos odiar ou ser odiados naturalmente; antes, queremos amar e ser amados; isso explica por que o primeiro desafio que Cristo nos apresenta é “amar” incondicionalmente. O verbo grego que o evangelho usa é “ἀγαπᾶτε” (agapate) – “amar” (no sentido social ou moral), de onde vem o substantivo ágape. Ágape é um tipo especial de amor. Não é o amor expresso fisicamente por amantes, nem é o amor por amigos íntimos. É particularmente uma atitude de consideração positiva para com as outras pessoas, pela qual desejam o seu bem-estar. O verdadeiro amor tem que machucar. Deve permitir que a pessoa esteja disposta a dar o que for preciso, para não prejudicar outras pessoas e, de fato, fazer o bem a elas incondicionalmente, independentemente de quem sejam ou do que tenham feito a nós. Assim, isso requer que estejamos dispostos a dar até doer – este é o resumo do ensino de Cristo hoje, e de fato, sua missão redentora no mundo: Sua entrega, enraizada no verdadeiro amor pela humanidade que levou – o à sua morte sacrificial na cruz.
Ao completar seu ensino, Cristo nos chama a praticar a caridade, conceder perdão para ser perdoado, ser imparcial e não condenar o outro – em poucas palavras: tenha misericórdia como nosso Pai celestial é compassivo. Ser compassivo envolve mostrar compaixão e preocupação com os sofrimentos ou infortúnios dos outros. Isso também atravessa os ensinamentos de São Paulo na primeira leitura de hoje, que envolve uma atitude de compaixão para com o “irmão fraco”, não escandalizando ou ferindo suas consciências fracas com nossas condutas ou modos de vida.
Queridos amigos em Cristo, na busca de colocar tudo isso em prática, vamos orar como o Salmista de hoje: “Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!… Senhor, sondai – me, conhecei meu coração, examinai – me e provai meus pensamentos! Vede bem se não estou no mau caminho, e conduzi – me no caminho para a vida!
Shalom!
© Fr. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paroquia Nossa Senhora de Fatima, Vila Sabrina, São Paulo, Brazil
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