A MALDADE NÃO É ATRIBUTO DE UM ‘IRMÃO, IRMÃ OU MÃE’ DE JESUS
Primeira leitura: Provérbios 21: 1-6,10-13
Salmo responsorial: Ps. 118 (119): 1,27,30,34-35,44
Leitura do Evangelho: Lucas 8: 19-21
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Em um de seus “Pensamentos Espirituais”, São José Marello, bispo e fundador da Congregação dos Oblatos de São José, expressa: “A maldade não entra no céu” (Escrito 196) Aqui, a “maldade” pode ser também entendida como perversidade, malignidade ou injustiça. Esta expressão, sendo tão direta e explícita, convida o fiel a erradicar-se de todas as formas de maldade e abraçar a virtude, afim de alcançar o céu. Hoje, somos confrontados com uma exortação semelhante, tirada do livro dos Provérbios, com o seguinte tema: “Sobre a maldade e a virtude”, na qual corresponde também à descrição de Jesus a respeito daqueles que cumprem a vontade de Seu Pai, como sua mãe e irmãos.
Para começar, o Livro dos Provérbios, no qual está contido a primeira leitura do dia de hoje, é uma ampla coleção de máximas e frases independentes umas das outras, sem qualquer tipo de fio ideológico, cuja sabedoria das várias gerações de Israel encontra-se depositada. Seu objetivo é tornar cada israelita um homem verdadeiro, ou seja, forte, autocontrolado, interiormente livre, trabalhador, habilidoso, leal, virtuoso, desenraizado da maldade. Em suma, é a base do seu ser. As virtudes, sugeridas na primeira leitura de hoje, são habituais, que consistem na justiça, caridade, humildade, trabalho árduo para um bom fim, entre outras. Assim, o autor lembra aos seus ouvintes que “agir com justiça agrada mais ao Senhor do que o sacrifício” (Cf. Pr 21,3) Em seguida, ele enumera as atitudes e vícios em relação à maldade: o olhar altivo, o coração orgulhoso, a língua mentirosa, a zombaria, as más intenções, o fechamento do ouvido ao grito do homem pobre. Desse modo, a conclusão se dá na afirmação de que o justo lança os ímpios à destruição; e mais ainda, quem tapar o ouvido ao clamor do pobre, não será ouvido quando clamar a Deus (Cf. Pr 21, 12-13).
Uma compreensão adequada da leitura antecedente pode servir como base preparatória para entender o padrão de referência de Cristo, dirigido àqueles que querem fazer parte de “Sua família”, como sua mãe, irmãos e irmãs (Cf. Lc 8, 21). Assim O Cristo afirma: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a colocam em prática”. Melhor dizendo, viver a Palavra de Deus, que ouvimos, é o que define a ação de maneira virtuosa e justa. Essas virtudes e atitudes tendem a produzir o milagre de se tornar a mãe, irmãos e irmãs de Jesus, em oposição à maldade (perversidade, malignidade, rancor, injustiça, etc.), que não tem lugar na família de Jesus.
Queridos amigos e amigas em Cristo, a Bem-Aventurada Virgem Maria é o modelo de como a Palavra é ouvida e acolhida. A bem-aventurança: “Bem-aventurada é aquela que acreditou que se cumpriria o que o Senhor lhe disse” (Lc 1, 45), é a primeira bem-aventurança que ecoa no Evangelho, através dos lábios de Isabel, que se encontrava cheia do Espírito Santo, assim como a Bem-Aventurada Virgem Maria; portanto, é a bem-aventurança da fé, que acolhe a Palavra de Deus e, a esta mesma, adere com toda a vida. Essa bem aventurança, mais tarde Jesus proclamará: “Bem-aventurados … os que ouvem a Palavra de Deus e a praticam!” (Lc 11,28). Se resume também na “melhor parte” que Maria de Betânia escolheu, sentada aos pés do Senhor, ouvindo a sua Palavra, na qual não lhe será retirada (cf. Lc 10, 38-42). Desse modo, assim como Maria ouviu a Palavra e a pôs em prática (com seu fiat), e depois se tornou Mãe, podemos fazer hoje, pedindo a mesma dignidade de gerar Cristo em nós, fazendo a Vontade do Pai.
Sendo assim, não basta escutar a Palavra, é preciso guardá-la e colocá-la em prática, como fez a Virgem Maria: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra. ” (Lc 1, 38). Da mesma forma, “Sejam aqueles que colocam a palavra em prática – exorta São Tiago – não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos” (Tg 1,22). A verdadeira “escuta da Palavra” acontece quando se ama, não com palavras, mas “com obras e em verdade” (1Jo 3,18). Por isso, devemos continuar a orar como o Salmista de hoje: “Guia-me, Senhor, no caminho dos teus mandamentos, porque aí está o meu prazer. Sempre observarei sua lei para todo o sempre.”
Shalom!
© Fr. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paroquia Nossa Senhora de Fatima, Vila Sabrina, São Paulo, Brazil
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