CAMINHANDO PELA FÉ EM TEMPOS INCERTOS
Primeira Leitura: Ezequiel 17,22-24
Salmo Responsorial: Salmo 91(92),2-3,13-16
Segunda Leitura: 2 Coríntios 5,6-10
Evangelho: Marcos 4,26-34
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Em tempos de incerteza e turbulência, é fácil sentir-se perdido, ansioso e sobrecarregado. O mundo ao nosso redor pode parecer caótico e o caminho à frente, incerto. No entanto, é precisamente nesses momentos que somos chamados a caminhar pela fé, confiando na obra invisível e na soberania de Deus. Isso deve nos lembrar que, mesmo quando as circunstâncias são desafiadoras, nossa fé em Deus pode nos fornecer a força e a certeza de que precisamos para perseverar. Queridos amigos em Cristo, as leituras deste domingo nos convidam a confiar na obra misteriosa e soberana de Deus em nosso mundo conturbado.
Na Primeira Leitura (cf. Ezequiel 17,22-24), ouvimos a promessa de Deus de tomar um broto do topo de um cedro e plantá-lo em um alto e elevado monte. Esta imagem na parlance hebraica fala de esperança e restauração. O “broto” (קָרֶת – qaret) simboliza um começo frágil com potencial para grande crescimento. O “alto monte” (הַר – har) representa estabilidade e presença divina. Esta profecia assegura aos israelitas exilados que Deus não os abandonou, mas os restaurará e fará com que floresçam novamente. A árvore de cedro, conhecida por sua força e durabilidade, significa a natureza duradoura da promessa de Deus. Isso oferece uma mensagem poderosa de esperança e renovação, assegurando-nos que Deus está em ação, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Esta mensagem reflete-se no Salmo Responsorial (Salmo 91[92],2-3,13-16): “O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano.” Estas palavras nos lembram que aqueles que confiam no Senhor encontrarão força e renovação, mesmo diante da adversidade. A imagem das árvores florescendo aqui conecta-se à promessa em Ezequiel, reforçando a mensagem do cuidado e providência divina. Assim, nossa passagem é uma profecia messiânica onde Deus promete levantar um descendente da linhagem de Davi — um broto do cedro alto — que trará glória a Israel. Não é de se admirar que Jesus descreva o humilde arbusto de mostarda crescendo em uma grande planta, fornecendo espaço suficiente para os pássaros fazerem ninhos em seus ramos, refletindo uma imagem semelhante encontrada na primeira leitura.
O Evangelho de hoje (cf. Marcos 4,26-34) é melhor compreendido no contexto de Jesus ilustrando o crescimento misterioso do reino de Deus através de parábolas. Assim, a Parábola da Semente que Cresce (vv. 26-29) descreve como a semente (σπέρμα – sperma) brota e cresce independentemente da compreensão do agricultor, simbolizando a obra oculta e autônoma do reino de Deus. Além disso, a Parábola do Grão de Mostarda (vv. 30-32) enfatiza ainda mais isso ao mostrar como uma pequena semente pode crescer na maior das plantas do jardim, proporcionando abrigo para os pássaros. Os termos gregos, como “semente” (σπέρμα – sperma), referem-se a uma semente física ou metaforicamente à descendência, aos descendentes ou à Palavra de Deus. É um substantivo neutro e muitas vezes simboliza potencial e crescimento. Aqui, σπέρμα representa o começo do reino de Deus, enfatizando seu início humilde e aparentemente insignificante, enquanto “crescer” (αὐξάνεται – auxanetai) é um verbo na forma indicativa passiva presente, indicando ação contínua ou repetida que acontece passivamente. Significa aumentar ou crescer, refletindo o processo natural e inevitável de crescimento. Na passagem, αὐξάνεται ilustra o crescimento misterioso e autônomo do reino de Deus, enfatizando que esse crescimento está além do controle humano e é orquestrado pelo poder divino. Assim, ambos os termos enfatizam a natureza orgânica e milagrosa do reino de Deus. Essas parábolas nos lembram que a obra de Deus muitas vezes ocorre de maneiras que não podemos ver ou compreender, e devemos confiar em Seu tempo e métodos. A semente de mostarda, apesar de seu pequeno tamanho, cresce em uma grande planta (λάχανον – lachanon), demonstrando que até os menores começos podem levar a grandes resultados no plano de Deus.
Uma aplicação prática desta mensagem reflete-se na Segunda Leitura (cf. 2 Coríntios 5,6-10), onde Paulo encoraja os coríntios a viverem pela fé (πίστις – pistis), não pela vista, confiantes em sua morada final com o Senhor. Ele os lembra de sua responsabilidade perante Cristo e os exorta a buscarem agradar a Deus em tudo o que fazem. Esta passagem nos chama a manter nossa fé e esperança, mesmo quando enfrentamos incertezas e desafios, sabendo que nossas ações têm significado eterno. Aqui, a palavra grega para fé (πίστις – pistis) ilustra a confiança e a dependência nas promessas de Deus e em Seu plano soberano. A exortação de Paulo para ser “sempre confiante” (θαρροῦντες – tharrountes) captura a necessidade de uma confiança firme na providência de Deus.
À luz de tudo isso, queridos amigos, aprendemos que caminhar pela fé em tempos incertos exige que confiemos na obra invisível e na soberania de Deus. Como o broto em Ezequiel, as sementes em Marcos e os fiéis no Salmo, somos chamados a depositar nossa confiança nas promessas de Deus. Devemos viver com a certeza de que, apesar dos desafios que enfrentamos, Deus está em ação, cultivando o crescimento e trazendo Seu reino à fruição de maneiras além da nossa compreensão. Na prática, isso significa que devemos cultivar uma vida de oração e confiança, buscando discernir a presença de Deus nos momentos pequenos e muitas vezes despercebidos de nossas vidas. Isso nos chama a ser pacientes e perseverar, sabendo que o tempo de Deus é perfeito. Somos encorajados a viver com integridade e propósito, buscando agradar a Deus em nossas ações diárias e confiando que Ele cumprirá Seus propósitos à Sua maneira e no Seu tempo.
Que possamos continuar a confiar na promessa de Deus de renovar nossa força. Lembremo-nos de que, assim como o broto do cedro crescerá em uma árvore poderosa, nossa nação também se erguerá através da fé e perseverança. Deus está em ação, mesmo quando não podemos vê-Lo. Continuemos a caminhar pela fé, sabendo que nossas lutas não são em vão. O Reino de Deus cresce misteriosa e poderosamente, e nossa confiança nEle não será desapontada. À medida que enfrentamos esses tempos difíceis, apoiemo-nos uns aos outros, vivamos com integridade e busquemos agradar a Deus em tudo o que fazemos, confiantes de que Ele está conosco e nos guiará para dias melhores.
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil
nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com
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