SUPERANDO A RESISTÊNCIA À PALAVRA DE DEUS E ALIMENTANDO UM CORAÇÃO RECEPTIVO E OUVENTE
Primeira Leitura: Isaías 55,10-11
Salmo Responsorial: Sl. 64(65),10-14
Segunda Leitura: Romanos 8,18-23
Leitura do Evangelho: Mateus 13,1-23
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Na era digital em que vivemos, onde os smartphones se tornaram uma extensão de nós mesmos, a importância de usar essas ferramentas para propagar a Palavra de Deus não pode ser exagerada. A cada momento que passa, nossos dispositivos se tornam mais do que meras extensões de nossa existência; eles se transformam em condutos de revelação divina, pontes que atravessam o abismo entre o buscador e o sagrado. Na palma de nossas mãos, temos um portal para as profundezas da sabedoria espiritual, uma oportunidade de acessar o vasto tesouro dos ensinamentos religiosos que antes exigiam peregrinações árduas e rolos manuscritos. A proliferação de plataformas e aplicativos digitais trouxe o poder transformador do Evangelho até nossas pontas dos dedos, dissolvendo as barreiras de tempo e distância. No entanto, nesta mesma era digital em que os smartphones se tornaram uma extensão de nós mesmos, não se pode ignorar o uso inadequado e as distrações causadas por eles. Recentemente, uma imagem viral chamou minha atenção. Ela retratava um banco de igreja cheio de pessoas, com as cabeças curvadas não em oração, mas em devoção às suas telas. Enquanto a Palavra de Deus estava sendo proclamada, elas pareciam absortas em um mundo virtual, inconscientes do poder transformador que se desdobrava diante delas. Essa imagem serve como um lembrete contundente de uma verdade mais profunda: a tentação de resistir ao poder transformador da Palavra de Deus. As leituras da liturgia deste domingo nos convidam a refletir sobre a importância de sermos receptivos à Palavra de Deus, de permitir que ela penetre nas profundezas de nossos corações e dê frutos abundantes.
A Primeira Leitura de Isaías (55,10-11) proclama a eficácia da Palavra de Deus. É importante observar que o livro de Isaías faz parte da tradição profética dentro da Bíblia Hebraica. Ele contém os oráculos e ensinamentos do profeta Isaías, que estava ativo no século VIII a.C. na antiga Judá. As profecias de Isaías abordavam várias preocupações sociais, políticas e religiosas de sua época. A seção da leitura de hoje especificamente é uma passagem metafórica que enfatiza o poder e a eficácia da Palavra de Deus. A comparação da chuva e da neve que caem do céu e não retornam sem cumprir seu propósito sugere que a Palavra de Deus, uma vez proferida, também alcançará seus resultados pretendidos – dando frutos. Essa passagem reflete a crença na autoridade divina e na certeza de que as promessas de Deus serão cumpridas. A Palavra de Deus não é vazia ou fútil; quando recebida de coração aberto, ela tem o poder de trazer transformação e dar frutos abundantes em nossas vidas. No entanto, com que frequência nos encontramos distraídos e resistentes às palavras de vida e verdade? Assim como os usuários de smartphones distraídos perdem a mensagem profunda que está sendo compartilhada, também podemos perder o poder transformador da Palavra de Deus se nos permitirmos ser distraídos, indiferentes ou resistentes.
Da mesma forma, o Salmo Responsorial (Salmo 64/65) amplia esse tema de receptividade e transformação. Ele retrata a criação respondendo alegremente às bênçãos de Deus, com os campos vestidos de abundância e os vales ressoando com cânticos. É um testemunho do poder vivificador da Palavra de Deus, que traz uma colheita de alegria, paz e plenitude. É um lembrete vívido de que quando permitimos que a Palavra de Deus penetre em nossos corações, ela traz uma colheita de alegria, paz e plenitude. Mas quando resistimos e negligenciamos, perdemos o poder transformador que ela contém.
Ao atravessarmos a Segunda Leitura de Romanos (8,18-23), o escopo da transformação se amplia. É importante observar que o Livro de Romanos foi escrito pelo apóstolo Paulo e dirigido à comunidade cristã em Roma. É uma carta teológica que explora vários aspectos da doutrina e da prática cristã. Em Romanos 8, Paulo explora o tema de viver no Espírito e a esperança dos crentes diante do sofrimento e da glória futura. Na seção da segunda leitura de hoje, Paulo discute o conceito de sofrimento presente e a esperança futura de redenção. Ele começa reconhecendo que os sofrimentos experimentados no presente são incomparáveis à glória que será revelada no futuro. Essa perspectiva encoraja os crentes a suportarem o sofrimento com esperança e perseverança. Paulo expande sua discussão além dos seres humanos para incluir toda a criação. Ele descreve a criação como esperando ansiosamente pela revelação dos filhos de Deus. Segundo Paulo, a criação foi sujeita à frustração e ao declínio não por escolha própria, mas como consequência do pecado humano e da quebra do mundo. Essa frustração e escravidão ao declínio afetam não apenas os seres humanos, mas também o mundo natural. No entanto, há esperança de que a criação será libertada dessa escravidão e trazida para a liberdade e glória dos filhos de Deus. Em outras palavras, o poder transformador da Palavra de Deus tem a capacidade de renovar e restaurar não apenas nossos corações, mas todo o cosmos. No entanto, se resistirmos ou negligenciarmos a Palavra, impediremos seu impacto transformador não apenas em nossas vidas, mas também no mundo ao nosso redor.
E fixando nosso olhar na Leitura do Evangelho de Mateus (13:1-23), nos deparamos com a parábola do semeador, que revela as várias respostas à Palavra de Deus. A parábola reflete a sociedade agrária da antiga Palestina, onde a agricultura desempenhava um papel central na vida das pessoas. O plantio de sementes era uma atividade familiar, tornando essa parábola relevante para a audiência de Jesus. O termo grego “Sperma” (σπέρμα) é usado para a semente. Ele se refere a uma semente literal, mas também carrega um significado metafórico da mensagem ou ensinamento que está sendo compartilhado. Isso enfatiza o potencial de crescimento e reprodução. O fruto do grego “karpos” (καρπός) mencionado na parábola pode ser entendido de duas maneiras. Primeiro, o termo “karpos” é usado para o fruto que a boa terra produz. Isso significa os resultados positivos ou os frutos de receber e abraçar a mensagem do reino. Esses resultados podem se manifestar como vidas transformadas, ações justas e a disseminação da mensagem do Evangelho dentro da comunidade. Segundo, no contexto mais amplo da passagem, o fruto pode ser visto como simbólico do crescimento espiritual e da transformação de indivíduos e da comunidade cristã como um todo. O fruto representa as virtudes, qualidades e maturidade espiritual que se desenvolvem como resultado de receber e viver a mensagem do reino de Deus. Uma realidade impressionante é que a semente (Sperma) simboliza a Palavra (Logos), que cai em diferentes tipos de solo. Alguns solos são receptivos e dão frutos abundantes, enquanto outros são endurecidos, superficiais ou sufocados por espinhos, impedindo o crescimento da semente. Essa parábola serve como um lembrete poderoso de que nossa receptividade à Palavra de Deus impacta diretamente seu poder transformador em nossas vidas. Assim como os usuários de smartphones distraídos perdem a profundidade e a riqueza da Palavra de Deus sendo disseminada, também podemos perder o poder transformador da Palavra de Deus se nossos corações não estiverem abertos, atentos e receptivos.
Em nosso mundo acelerado e impulsionado pela tecnologia, é fácil se distrair, ficar preocupado ou resistir à Palavra de Deus. Podemos nos sentir cativados pelo constante influxo de informações, consumidos pelo ruído do mundo ou entorpecidos pela indiferença. No entanto, as leituras de hoje nos chamam a romper com essas distrações e resistir à tentação de resistir à Palavra de Deus que transforma. Assim como testemunhamos a imagem dos usuários de smartphones distraídos nos bancos da igreja, que ela seja um chamado para a necessidade urgente de receptividade e atenção à Palavra de Deus. Vamos nos esforçar para ser a boa terra que recebe, nutre e permite que a Palavra de Deus se enraíze dentro de nós. É nessa receptividade que encontramos a chave para a transformação pessoal e para a colheita abundante de alegria, paz e propósito.
Caros amigos em Cristo, tornemos nossos corações como boa terra, férteis e receptivos às sementes da Palavra de Deus. Vamos nos aproximar das Escrituras com reverência, humildade e abertura para sermos transformados. Vamos deixar de lado nossas distrações, nossas preocupações e nossa resistência, e nos imergir na profunda sabedoria e graça da Palavra de Deus. Ao abraçarmos o poder transformador da Palavra de Deus, podemos nos encontrar renovados, restaurados e capacitados para seguir em frente e testemunhar o amor transformador de Cristo em nossas vidas. À medida que deixamos de lado as distrações deste mundo, que nossos corações se tornem um solo fértil, prontos para receber e dar frutos às sementes transformadoras da Palavra de Deus.
“Ah! Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações!” (Salmo 94/95)
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, São Paulo, Brasil
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Já rezaste o teu terço hoje?