MANIFESTAÇÕES VISÍVEIS VS. TRANSFORMAÇÃO INTERIOR: O QUE VERDADEIRAMENTE INDICA A PRESENÇA DO ESPÍRITO SANTO?
Primeira Leitura: Atos 2:1-11
Salmo Responsorial: Sl 103(104):1,24,29-31,34
Segunda Leitura: Gálatas 5:16-25
Evangelho: João 15:26-27,16:12-15
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Nossa era contemporânea está repleta de indivíduos que afirmam possuir dons espirituais dentro de várias ramificações do cristianismo. Acredita-se que esses indivíduos trabalhem sinais e maravilhas, falem em línguas durante orações e ministrações, profetizem e vejam visões. Tais fenômenos geralmente atraem grandes seguidores que acreditam que o Espírito Santo seja a força por trás dessas manifestações. Essa tendência, de natureza “Evangelical”, até mesmo prospera no catolicismo, particularmente na Nigéria e seus arredores, onde um padre médio é esperado ser um padre “milagreiro” (kabasher), para atender aos interesses do povo. Um termo particular, como “Padre Espírito Santo” (longe de capturar a identidade de um padre de uma congregação religiosa específica), é usado pelo povo de uma região específica no país para descrever padres que realizam sinais e maravilhas. Infelizmente, agora buscamos esses sinais como critérios para a presença de Deus, enquanto ignoramos a essência – os frutos do Espírito, como amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole. Hoje, muitos de nós querem ouvir profecias, orações/pregações de prosperidade, curas, falar em línguas (alguns até aprendem), etc., enquanto ignoram ou se recusam a ouvir como viver no amor, na gentileza, na paz, na paciência, etc. Isso nos leva à questão fundamental: “Realmente precisamos de sinais tangíveis e visíveis para validar a habitação do Espírito Santo, ou é o trabalho do Espírito primariamente interno e invisível?” Esta pergunta se reflete pelos corredores do debate teológico, desafiando-nos a examinar nossa compreensão da presença do Espírito Santo. O termo grego “πνεῦμα” (pneuma), significando “espírito” ou “sopro”, nos convida a considerar tanto os aspectos tangíveis quanto intangíveis da manifestação do Espírito. Neste Domingo de Pentecostes, somos chamados a examinar o equilíbrio entre manifestações externas e o trabalho silencioso, mas eficaz, do Espírito dentro de nós.
Começando com a Primeira Leitura, que nos apresenta o relato de Pentecostes (cf. Atos 2:1-11), vemos uma cena vívida onde o Espírito Santo desce sobre os apóstolos com sinais visíveis de vento e línguas de fogo, levando-os a falar em diferentes idiomas. Esta manifestação dramática está alinhada com o conceito grego de “φανερός” (phaneros), significando “visível” ou “manifesto”, refletindo a presença tangível do Espírito Santo. Os sinais visíveis serviram como validação imediata do poder do Espírito, capacitando os apóstolos a proclamar o Evangelho de forma eficaz.
Outra dimensão é vista no Evangelho (cf. João 15:26-27, 16:12-15), onde Jesus promete a vinda do “παράκλητος” (parakletos), o Advogado ou Auxiliador, que é o Espírito da Verdade. Este Espírito guiará os discípulos a toda a verdade e testemunhará sobre Jesus. O destaque aqui está na orientação interna e revelação fornecidas pelo Espírito Santo, que nem sempre podem ser acompanhadas por sinais externos e visíveis. O papel do Espírito como guia interno reflete um aspecto mais sutil, mas mais profundo, de Sua presença. Esta realidade é complementada pela Segunda Leitura (cf. Gálatas 5:16-25), onde Paulo contrasta as obras da carne com os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole. O termo grego “καρπός” (karpos), significando “fruto”, significa a evidência visível do trabalho interno do Espírito. Estes frutos não são tão imediatamente dramáticos quanto línguas de fogo, ainda assim são sinais tangíveis da presença radical do Espírito dentro dos cristãos, enfatizando uma vida liderada pelo Espírito.
Em consonância, os documentos magisteriais da Igreja fornecem uma perspectiva equilibrada sobre esta questão. Lumen Gentium enfatiza as diversas maneiras pelas quais o Espírito Santo trabalha dentro da Igreja, tanto visível quanto invisivelmente. Afirma que o Espírito “habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo” (cf. LG 4), destacando a presença interior que nem sempre requer sinais externos dramáticos. É por isso que podemos rezar a oração “Vinde Espírito Santo”, convidando-o a encher nossos corações e acender em nós o fogo do amor de Deus, que nos capacita a fazer a vontade de Deus. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) também aborda as diversas manifestações do Espírito Santo. O parágrafo 688 reconhece que o Espírito Santo se faz conhecer através das Escrituras, da Tradição, do Magistério da Igreja, da liturgia sacramental, da oração, dos carismas e ministérios, dos sinais de vida apostólica e missionária e do testemunho dos santos. Essa visão abrangente captura que, enquanto os sinais visíveis são significativos, o trabalho do Espírito é multifacetado e frequentemente interno.
Infelizmente, no contexto atual, muitas vezes há uma ênfase excessiva nos sinais milagrosos como evidência da presença de Deus. Isso pode levar a uma compreensão distorcida dos dons espirituais, onde apenas manifestações visíveis e dramáticas são valorizadas. Parecemos esquecer os ensinamentos de São Paulo (cf. 1 Coríntios 12:4ss.) “Há diferentes tipos de dons, mas o mesmo Espírito os distribui. Há diferentes tipos de serviço, mas o mesmo Senhor. Há diferentes tipos de trabalhos, mas em todos eles e em todos, é o mesmo Deus que está trabalhando. Agora a cada um, a manifestação do Espírito é dada para o bem comum.” Isso é complementado por Gálatas 5:22-23 “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole. Contra tais coisas, não há lei.” Portanto, vamos redirecionar nosso foco para a verdadeira evidência da presença do Espírito: os frutos do Espírito. Estes frutos, como amor, alegria, paz, paciência, bondade, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole, são os marcadores autênticos de uma vida influenciada pelo Espírito Santo. Eles refletem a reforma do caráter e o aprofundamento do relacionamento com Deus, que é a verdadeira essência da espiritualidade cristã.
Quando a busca por sinais e maravilhas obscurece o cultivo dos frutos do Espírito, a mensagem central do Evangelho se perde. A busca por experiências extraordinárias pode desviar nossa atenção do chamado fundamental para viver as virtudes que Jesus exemplificou. Este desequilíbrio pode levar a uma fé superficial que prioriza o espetáculo sobre a substância. Embora as manifestações de dons espirituais como profecia, cura e falar em línguas tenham seu lugar dentro da tradição cristã, elas não devem ser o único critério para discernir a presença do Espírito Santo. Isso explica por que um líder religioso que opera milagres pode ter problemas com o amor ao próximo e até manifestar comportamento indisciplinado, um claro sinal de não refletir os frutos do Espírito Santo. Assim, a verdadeira evidência do trabalho do Espírito está nos frutos do Espírito, que cultivam um caráter semelhante ao de Cristo e promovem um crescimento espiritual genuíno. Como cristãos, somos chamados a buscar e cultivar esses frutos em nossas vidas, refletindo o amor, a paz e a bondade de Deus para o mundo. Ao fazê-lo, podemos ir além do atrativo superficial de sinais e maravilhas e abraçar o poder mais profundo e transformador do Espírito Santo.
Caros amigos em Cristo, as lições são claras. O primeiro passo para nos tornarmos cristãos produtivos e frutíferos é reconhecer e abraçar a variedade dos dons do Espírito Santo dentro de nós (e não apenas os carismáticos) e como todos esses dons vêm do mesmo Espírito, não apenas para edificação pessoal, mas para o benefício de toda a Igreja e do mundo. Enquanto os dons do Espírito Santo nos capacitam, os frutos do Espírito demonstram a profundidade de nossa conversão. Devemos nos esforçar para cultivar amor, alegria, paz, paciência, bondade, bondade, fidelidade, gentileza e autocontrole em nossa vida diária. Estes frutos são a evidência de uma vida liderada pelo Espírito e são cruciais para o nosso testemunho para o mundo. Além disso, devemos aprender a integrar os dons e os frutos do Espírito em nossa vida diária, o que envolve ações e atitudes intencionais. Por exemplo, um pregador dotado de eloquência também deve exibir bondade e paciência, garantindo que sua mensagem não seja apenas poderosa, mas também entregue com amor. Um visionário deve fundamentar suas visões em gentileza e fidelidade, garantindo que suas revelações edifiquem a comunidade. Devemos também buscar continuamente a renovação e orientação do Espírito Santo. Isso envolve oração regular, participação nos sacramentos e abertura à liderança do Espírito. Ao permanecermos conectados ao Espírito Santo, garantimos que nossas ações permaneçam alinhadas com a vontade de Deus.
Acima de tudo, ao comemorarmos o evento de Pentecostes na vida dos Apóstolos, devemos ter em mente que o efeito de Pentecostes ainda permanece na vida da Igreja através dos Sacramentos, da Oração, da leitura/estudo da Palavra, etc. Portanto, neste Domingo de Pentecostes, comprometamo-nos a utilizar nossos dons para dar frutos em nossas vidas e comunidades. Ao fazer isso, não apenas crescemos em nossa fé, mas também contribuímos para a construção de um mundo melhor, refletindo o amor, a alegria e a paz do Espírito Santo para todos.
“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra!”
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brazil
nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com
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Já rezou o terço hoje?