DESVELANDO A MÁSCARA DA PRETENSÃO
Primeira Leitura: Gn 27,1-5;15-29
Salmo Responsorial: Sl 134(135),1-6
Leitura do Evangelho: Mateus 9,14-17
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Num mundo contemporâneo onde as máscaras faciais se tornaram sinônimo de segurança e proteção, somos simultaneamente enredados nas ferozes repercussões de seu uso indevido. Ganhando seu uso popular na sociedade durante a pandemia do COVID-19, a máscara facial ascendeu rapidamente ao status de vestimenta obrigatória, de modo que, quando não estiver em uso, a pessoa pode ser impedida de frequentar domínios públicos, reuniões e assuntos (especialmente como presenciei aqui no Brasil e em alguns outros países); tudo em uma boa tentativa de conter a propagação do vírus. Como a máscara facial esconde uma parte significativa de nossos rostos – nariz, lábios e mandíbula – ela oferece uma oportunidade única para aqueles inclinados ao fingimento e ao engano de esconder suas verdadeiras identidades. Ao combinar a máscara com outros acessórios, como óculos escuros, torna-se ainda mais desafiador reconhecer um indivíduo, aprofundando ainda mais sua fachada de duplicidade. Esse infeliz uso indevido da máscara facial serve como um lembrete pungente da presença do fingimento em nosso mundo. Ressalta a dissonância entre a aparência externa de uma pessoa e a autenticidade de seu caráter. Assim como a máscara cria uma barreira, protegendo a verdade, os indivíduos que a utilizam como uma ferramenta de engano criam uma barreira entre seu verdadeiro eu e a percepção que procuram projetar para os outros. Hoje, ao mergulharmos nas leituras litúrgicas, somos convidados a despir as camadas de fingimento para revelar o poder transformador de abraçar a autenticidade e a verdade. Essas passagens expõem as consequências de fingir ser alguém que não somos, convidando-nos a remover a máscara da falsidade e abraçar a beleza de nosso ser genuíno.
Para começar, a história de Jacob na primeira leitura (Gn 27,1-5;15-29) expõe as perigosas consequências do fingimento. Buscando receber a bênção de seu irmão Esaú, Jacó, auxiliado por sua mãe, disfarça-se, pondo uma máscara para enganar seu pai, Isaque. Este ato de fingimento, nascido da ambição e interesse próprio, semeia discórdia e quebra a confiança dentro da família de Jacob. Mais tarde, no livro de Gênesis 29,15-30, vemos Labão, que inicialmente concordou em dar Raquel a Jacó como sua esposa, o enganou trocando Raquel por sua irmã mais velha, Lia, na noite de núpcias. Além disso, em Gênesis (capítulo 37,31-33), testemunhamos as trágicas repercussões do engano de Jacó quando seus próprios filhos o enganaram, usando uma túnica manchada de sangue para fingir a morte de seu irmão José. As ações de Jacob nos lembram que, quando fingimos, sacrificamos a autenticidade e a conexão genuína, arriscando consequências irreversíveis. E em contraste com as ações enganosas de Jacó, o salmo responsorial enfatiza a importância de adorar o único Deus verdadeiro, fiel e digno de nossa confiança.
Da mesma forma, no Evangelho de Mateus (9,14-17), Jesus aborda a questão do jejum e a máscara de fingimento que pode acompanhá-lo. Os discípulos de João Batista, assim como os fariseus, praticavam o jejum como prática religiosa. No entanto, Jesus desafia seus motivos, questionando se o jejum deles era apenas uma demonstração de justiça ou uma expressão genuína de devoção. Ele expõe o perigo do jejum sem reconhecer seu verdadeiro significado e usando-o como uma máscara de fingimento, onde a observância externa mascara a falta de transformação interior. Jesus os convida – e a nós – a abraçar a devoção autêntica, onde nossas ações se alinham com nosso verdadeiro ser e nossos corações estão genuinamente conectados a Deus.
Quando tiramos a máscara do fingimento, criamos espaço para o florescimento de relacionamentos genuínos. Ao abraçar nosso verdadeiro ser, com falhas e tudo, convidamos os outros a fazer o mesmo, promovendo conexões enraizadas na confiança, honestidade e compreensão mútua. Além disso, quando abandonamos a máscara da pretensão religiosa, nossos atos de devoção tornam-se expressões autênticas de amor e reverência a Deus. Não estamos mais limitados por exibições externas, mas somos transformados por dentro, irradiando a luz de nossa verdadeira identidade.
Queridos amigos em Cristo, enquanto navegamos pelas complexidades da vida, prestemos atenção às lições de desmascarar o fingimento. Assim como as máscaras foram um símbolo proeminente durante a pandemia, lembrando-nos de nossa responsabilidade coletiva, vamos também reconhecer as máscaras que podemos usar para esconder nosso verdadeiro eu. O engano de Jacó e a advertência contra práticas religiosas superficiais no Evangelho nos obrigam a remover a máscara da falsidade e abraçar a liberdade e a beleza da autenticidade. Que possamos descascar corajosamente as camadas de fingimento, abraçando a verdade de quem somos, com falhas e tudo. Cultivemos relacionamentos genuínos baseados na confiança, transparência e amor. Em nossos atos de devoção, podemos buscar uma conexão profunda com Deus que emana das profundezas de nossos corações. Ao desmascarar o fingimento, entramos em um mundo de autenticidade, onde nossas verdadeiras identidades podem brilhar, transformando nossas vidas e as pessoas ao nosso redor. Que sejamos libertos das correntes do fingimento, abraçando a liberdade e a alegria que surgem quando vivemos como nosso ser genuíno, sem máscara e sem medo.
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, São Paulo, Brasil
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