ALÉM DAS LETRAS: EXPLORANDO A RELAÇÃO DINÂMICA ENTRE A LEI, A JUSTIÇA E O ESPÍRITO
Primeira Leitura: 2 Coríntios 3,4-11
Salmo Responsorial: Sl. 98(99),5-9
Leitura do Evangelho: Mateus 5,17-19
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Na tapeçaria de nossa fé, certos temas se destacam como fios vibrantes que tecem as Escrituras e moldam nossa compreensão do plano redentor de Deus. Entre esses temas estão a lei, a justiça e o poder transformador do Espírito de Deus. Juntos, eles formam uma bela sinfonia, revelando o profundo amor de Deus por Sua criação e Seu desejo de que andemos em harmonia com Sua vontade. Surpreendentemente, os temas da lei, da justiça e do poder transformador do Espírito de Deus são habilmente entrelaçados nas leituras de hoje. Eles servem como um poderoso lembrete da intrincada relação entre a lei do Antigo Testamento e seu cumprimento na pessoa de Jesus Cristo. Assim, para compreender a mensagem de hoje, tomemos como ponto de partida a leitura do evangelho.
Considerando o pano de fundo religioso e cultural do judaísmo do primeiro século na época de Jesus, o judaísmo era um sistema religioso e social complexo, profundamente enraizado na lei mosaica encontrada na Torá. A lei, dada por Deus a Moisés, era considerada a autoridade divina que guiava a vida e a prática judaica. Abrangia vários mandamentos, rituais e diretrizes morais que governavam todos os aspectos da sociedade judaica, incluindo adoração, moralidade e interações sociais. Nesse contexto sociocultural, Jesus dirigiu seu Sermão da Montanha, a partir das bem-aventuranças, que aparentemente eram revolucionárias e desafiavam as interpretações tradicionais da lei pelos líderes religiosos da época. Suas palavras buscavam revelar o verdadeiro espírito e propósito da lei, em vez de simplesmente aderir à observância externa – as letras da lei. Dirigindo-se à sua “audiência um tanto escandalizada” que pensava ter vindo para abandonar a lei, Jesus declara que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la. Jesus enfatiza que nem mesmo o menor detalhe da lei passará até que tudo seja cumprido. Sua intenção é mostrar que a lei tem significado duradouro e deve ser abordada com reverência e obediência. No entanto, ele exorta seu público a superar a justiça dos escribas e fariseus, que eram conhecidos por sua adesão escrupulosa às letras da lei. Esta declaração desafia a hierarquia religiosa predominante e destaca a importância da verdadeira justiça que brota de um relacionamento autêntico com Deus. Desnecessário dizer que Jesus convida seus seguidores a abraçar uma compreensão mais profunda da justiça que vai além da observância externa e busca uma genuína transformação do coração. Isso teria profundas implicações sociológicas, pois desafiava as normas religiosas e as estruturas de poder da época. Os ensinamentos de Jesus exigiam uma mudança de foco da obediência externa para um relacionamento sincero e autêntico com Deus, enraizado no amor, na misericórdia e na justiça.
Da mesma forma, a maneira de Paulo destacar o contraste entre a “letra” que mata e o “Espírito” que dá a vida na segunda leitura de hoje também pode refletir uma tensão sociológica dentro da comunidade cristã primitiva. Alguns membros podem ter se apegado a uma interpretação legalista da lei mosaica, focando na adesão externa ao invés da transformação interior. A mensagem de Paulo enfatiza o poder transformador do Espírito, sugerindo um relacionamento mais dinâmico e pessoal com Deus. Paulo admite que a lei, embora admirável, resulta em morte e condenação. No entanto, uma nova aliança que traz justiça, vida e liberdade foi formada por meio da obra de Cristo e da habitação do Espírito Santo. Nossos corações são transformados pelo Espírito, que também nos dá a capacidade de viver em conformidade com o desejo de Deus. Num nexo, o salmo responsorial de hoje exalta a justiça, a santidade e a fidelidade do Senhor. Serve como um lembrete do valor da adoração reverente e inspiradora de Deus. Assim, nossa adoração a Deus deve vir de um coração que abraça a retidão e a justiça de Deus, não apenas de rituais que realizamos externamente.
Queridos amigos em Cristo, vamos considerar como contemplamos pessoalmente a justiça de Deus e a lei ao refletirmos sobre essas passagens. Que possamos buscar a orientação do Espírito Santo para mudar nossos corações e nos dar forças para viver em conformidade com o desejo de Deus. Tratemos a lei com respeito, entendendo que ela existe para nos apontar para Cristo e nos moldar à Sua semelhança. Que possamos nos esforçar constantemente por uma retidão que vai além de meramente seguir regras e regulamentos, e nos esforçar por um amor sincero a Deus e às pessoas. Que possamos viver uma vida que reflita a justiça de Cristo, trazendo glória a Deus e atraindo outros a Ele.
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Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, São Paulo.
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PS: Você já rezou o terço hoje?