NAVEGANDO NA EXIGENTE ROTA DO PERDÃO: ESTRADA DA CURA E DA INTEGRIDADE
Primeira Leitura: 44,18-21,23-29;45,1-5
Salmo Responsorial: Sl 104(105),16-21
Leitura do Evangelho: Mateus 10,7-15
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No complexo tecido da existência humana, o caminho da reconciliação e do perdão muitas vezes está repleto de espinhos, exigindo coragem e força para percorrer seu terreno traiçoeiro. Isso requer que naveguemos pelas complexidades de nossas emoções e confrontemos as cicatrizes de transgressões passadas. Como o famoso escritor e humorista americano Mark Twain (cujo verdadeiro nome era Samuel Clemens) sabiamente opina: “O perdão é a fragrância que a violeta exala no calcanhar que a esmagou”; e em consonância com a afirmação de Lewis B. Smedes, autor e teólogo cristão, “Perdoar é libertar um prisioneiro e descobrir que o prisioneiro era você”, a luta que enfrentamos ao nos depararmos com a tarefa da reconciliação e do perdão é concretamente capturada e ressoa profundamente, lembrando-nos de que o ato de perdoar não é uma tarefa fácil; ao contrário, ele emana de um lugar de força e resiliência profunda. Imerso nas experiências concretas de nossa vida, o tema central da reconciliação e do perdão é iluminado pela sabedoria atemporal contida nas leituras litúrgicas de hoje.
Tomando a Leitura do Evangelho (Mateus 10,7-15) como ponto de partida, nossa compreensão do tema de hoje encontra ressonância nas instruções de Cristo aos Doze discípulos, enviando-os em missão: “Ao partirdes, proclamai que o Reino dos céus está próximo.” O Reino de Deus, caros amigos, é a totalidade do universo, onde a vontade de Deus reina como utopia – um reino marcado por compaixão, perdão, reconciliação e paz. É um reino que traz cura, purificação e a expulsão do mal de nosso meio, como visto na Leitura do Evangelho. Não é de admirar que, quando pronunciamos as palavras “venha a nós o vosso reino” na oração do Pai Nosso, elas sejam seguidas por “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. E no cerne dessa vontade divina reside o amor – que, no contexto das leituras de hoje, incorpora reconciliação, perdão e compaixão. Não é surpreendente, portanto, que nossa petição por perdão siga de perto na oração do Pai Nosso.
Da mesma forma, o salmo responsorial fala de intervenção divina e redenção, mostrando a fidelidade de Deus em guiar seu povo através da adversidade. Isso nos lembra que o perdão e a compaixão não são apenas virtudes encontradas na humanidade, mas também atributos divinos. Através do perdão, Deus liberta os oprimidos e oferece um caminho para a salvação e libertação espiritual.
E voltando nossa atenção para a Primeira Leitura do Livro de Gênesis (44,18-21,23-2;45,1-5), a narrativa de José e seus irmãos oferece uma ilustração comovente do poder transformador do perdão e da reconciliação. Em meio à complexidade das relações humanas e à profundidade da traição, José estende a mão do perdão a seus irmãos, incorporando o potencial redentor da reconciliação. “Eu sou seu irmão, José”, declara ele, “aquele que vocês venderam como escravo para o Egito. E agora, não se aflijam, nem se recriminem por terem me vendido para cá. Foi para salvar vidas que Deus me enviou à frente de vocês.” Nestas palavras, testemunhamos a profunda verdade de que o perdão possui a chave para curar feridas e recompor os pedaços despedaçados de nossa existência. O ato de graça de José torna-se uma luz guia, iluminando o caminho da reconciliação que transcende tempo e circunstância.
Caros amigos em Cristo, enquanto nos aprofundamos nessas verdades profundas, permitamo-nos ser profundamente tocados pelo chamado para abraçar a reconciliação e a empatia em nossas próprias vidas, e especialmente vê-las como uma forma de nos libertarmos da prisão da vida, como declarado no início de nossa reflexão. Além disso, voltando à citação de Mark Twain, “O perdão é a fragrância que a violeta exala no calcanhar que a esmagou”. Aqui, mesmo que a violeta seja esmagada e machucada, ela ainda libera seu doce aroma no ar. Da mesma forma, o perdão acontece quando decidimos deixar de lado os sentimentos negativos ou a raiva em relação a alguém que nos fez algo errado ou doloroso. É como o agradável perfume que a violeta exala. Quando alguém nos machuca, em vez de ficarmos chateados e com raiva o tempo todo, perdoá-los é como espalhar uma fragrância doce ao seu redor. A história de José nos ensina que o perdão tem o poder de restaurar relacionamentos fragmentados e revelar bênçãos ocultas. José foi como a violeta esmagada, mas permitiu que seu doce aroma se espalhasse quando encontrou seus irmãos, e isso foi capaz de trazer cura duradoura à família de Jacó. A reflexão do salmista nos lembra que, mesmo nos momentos mais sombrios, a graça divina orquestra um caminho de redenção, conduzindo-nos em direção à reconciliação e à plenitude. E nos ensinamentos de Cristo, somos lembrados da necessidade urgente de empatia, misericórdia e amor altruísta em um mundo assolado por divisão e conflito.
Portanto, ao nos envolvermos nessas leituras, sejamos movidos pelas profundas verdades que elas carregam, refletindo sobre como podemos incorporar a reconciliação e a empatia em nossas próprias vidas. À medida que abraçamos o Reino de Deus, que está próximo, vivamos como filhos desse Reino, cumprindo a vontade de Deus na terra, assim como é feita no céu, atendendo ao chamado para sermos agentes de cura, praticando o perdão, estendendo a compaixão e espalhando o amor em um mundo sedento de união e compreensão. Pois é através do poder transformador da reconciliação que abraçamos nossa humanidade compartilhada, promovendo um mundo que floresce com graça, compaixão e esperança – assim como as pérolas antigas de sabedoria fazem dentro desses textos sagrados.
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, São Paulo, Brasil
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Já rezaste o teu terço hoje?