POR QUE CONTINUAMOS FALHANDO NAS AMIZADES E NO CASAMENTO? RELACIONAMENTOS DESCARTÁVEIS?
Primeira Leitura: Eclesiástico 6,5-17
Salmo Responsorial: Sl 118(119),12.16.18.27.34-35
Evangelho: Marcos 10,1-12
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Nem todo mundo que te chama de “amigo” é realmente seu amigo. No mundo das redes sociais, confundimos curtidas, seguidores e elogios com amizade genuína. As pessoas se aproximam quando precisam de você, mas desaparecem quando é você quem precisa delas. Você já viu casais celebrando um amor luxuoso ou fazendo um casamento caríssimo, que se torna o assunto do momento, como frequentemente ocorre nas redes sociais, apenas para se separarem assim que a empolgação passa? A maioria dos relacionamentos hoje é baseada na conveniência, não no compromisso. As amizades duram enquanto há algo a ganhar, e os casamentos são tratados como contratos, não como alianças. As pessoas vão embora no primeiro sinal de dificuldade, acreditando que “merecem algo melhor”, sem nunca se questionarem se cultivaram as virtudes necessárias para um vínculo duradouro. As leituras de hoje desafiam essa abordagem superficial dos relacionamentos, nos chamando a buscar a sabedoria em vez de emoções passageiras.
O Livro do Eclesiástico nos apresenta uma verdade dura e desconfortável: a maioria das amizades é condicional. Ele nos adverte que nem todo aquele que te chama de “amigo” é realmente leal. Muitas pessoas permanecem próximas apenas porque estão se beneficiando de você de alguma forma. Mas um amigo fiel? Esse é um achado raro, um verdadeiro presente de Deus. A raiz hebraica da palavra “amigo” nesse contexto é rēaʿ (רֵעַ), que não significa apenas companheiro, mas também alguém ligado a você por confiança e dependência mútua. A passagem nos lembra que um amigo verdadeiro é testado pelo fogo, assim como o ouro é refinado. Uma amizade que nunca foi provada pela adversidade não é confiável. É aqui que muitos falham hoje, pois as amizades são baseadas em interesses comuns, humor ou experiências compartilhadas, e não em lealdade, virtude ou confiança centrada em Deus. O resultado? No primeiro desentendimento ou no momento em que a distância surge, a amizade se desfaz. A sabedoria do Eclesiástico é simples, mas muitas vezes ignorada: escolha seus amigos com cuidado e seja o tipo de amigo que você deseja ter.
O salmista leva essa reflexão um passo adiante, mostrando de onde vem a verdadeira sabedoria. “Ensina-me, Senhor, teus estatutos”, ele reza, reconhecendo que a sabedoria humana não é suficiente para sustentar os relacionamentos. Essa é uma resposta direta ao fracasso das amizades e dos casamentos hoje: agimos com base em emoções, não na sabedoria. As pessoas tomam decisões impulsivas nos relacionamentos sem discernir o caráter, a fé e os valores de longo prazo do outro. O salmo nos lembra que a obediência à lei de Deus é o único caminho seguro para evitar escolhas desastrosas. Quando as emoções diminuem, quando surgem provações e quando o amor humano falha, apenas a sabedoria de Deus pode sustentar os relacionamentos.
Jesus, no Evangelho de hoje, expõe o quanto nossa compreensão de compromisso se tornou falha. Os fariseus perguntam sobre o divórcio, tentando colocá-lo em uma armadilha legal. Mas Jesus não se limita a falar de leis, Ele os leva de volta ao próprio ato da criação: “Desde o princípio, Deus os fez homem e mulher… e os dois se tornarão uma só carne.” Em um mundo onde as pessoas acreditam que o casamento deve ser baseado em “compatibilidade” ou “felicidade”, Jesus nos lembra que o casamento é uma união sagrada, um vínculo inquebrável estabelecido pelo próprio Deus. A palavra grega usada para “unir” é syzeugnymi (συζεύγνυμι), que não significa apenas união, mas um laço que não pode ser desfeito. É a mesma palavra usada para o jugo que une bois, indicando que o casamento é uma parceria para a vida toda, não uma fase de teste. Mas a sociedade moderna ensina o oposto. Se um casamento não te faz feliz, acabe com ele. Se uma amizade não é mais emocionante, siga em frente. Se um relacionamento não for conveniente, descarte-o. Essa cultura do descartável é exatamente o que Jesus rejeita.
O Evangelho não trata apenas do casamento, mas da forma como abordamos todos os relacionamentos. Se o casamento é sagrado, então a amizade também deve ser tratada com reverência. Se Deus chama os cônjuges à fidelidade, não deveríamos também ser fiéis em nossas amizades? No entanto, hoje, sabotamos nossos próprios relacionamentos e culpamos Deus pelas consequências. Ignoramos a sabedoria, escolhendo pessoas com base em atração, status ou riqueza, em vez de caráter e virtude. Recusamos suportar dificuldades, abandonando as pessoas quando o relacionamento exige sacrifício. Rejeitamos o compromisso, sempre procurando a “próxima melhor opção”, em vez de investir no que já temos. E depois nos perguntamos por que estamos sozinhos, por que as amizades não duram e por que os casamentos fracassam.
É nesse ponto que as leituras nos fazem uma pergunta difícil: Você é sábio nos seus relacionamentos ou apenas segue seus sentimentos? O Eclesiástico ensina que devemos escolher os amigos com cuidado e testar sua lealdade. Você faz isso? O salmista pede a sabedoria de Deus. Você busca essa sabedoria antes de entrar em um relacionamento? Jesus ensina que o casamento é indissolúvel, mas você encara seus relacionamentos como alianças para a vida ou apenas como algo passageiro? Se queremos que as amizades e os casamentos durem, precisamos parar de culpar os outros e começar a olhar para nós mesmos. Em vez de perguntar: “Por que as pessoas me traem?”, pergunte: “Escolhi meus amigos com sabedoria?”. Em vez de dizer: “Meu casamento não está funcionando”, pergunte: “Entrei nele com sabedoria, oração e paciência?”. Em vez de se perguntar por que as pessoas vão embora quando as coisas ficam difíceis, pergunte-se: “Tenho a perseverança para lutar pelo que é bom?”
As amizades falham não porque as pessoas são más, mas porque a sabedoria foi ignorada no início. Os casamentos se desfazem não porque o amor morreu, mas porque as pessoas nunca foram realmente preparadas para o compromisso que assumiram. Os relacionamentos desmoronam porque priorizamos emoções em vez de sabedoria, conveniência em vez de compromisso, e interesses pessoais em vez de sacrifício. Se quisermos parar de falhar nos relacionamentos, precisamos retomar os ensinamentos das Escrituras: teste as pessoas antes de confiar nelas, busque a sabedoria de Deus antes de se comprometer e compreenda que o amor – o verdadeiro amor – exige sacrifício.
Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não fecheis os vossos corações! (Sl 95,7)
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil.
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Você já rezou o seu terço hoje?