VOZ DO LOGOS (21): REFLEXÃO/HOMILIA PARA QUARTA-FEIRA DA PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA, ANO 1

Muitas pessoas dizem que acreditam em Deus, mas, no fundo, sua fé depende de sinais e milagres. Elas querem provas antes de confiar. Muitos cristãos afirmam ter fé, mas, na realidade, sua fé é condicional. Confiam em Deus apenas se Ele curar suas doenças, abençoar suas finanças ou responder suas orações exatamente como desejam. Exigem provas antes de se comprometer, esperando milagres, sinais e prodígios como base para sua crença. Alguns até fazem promessas a Deus: “Se resolveres este problema, eu Te seguirei.” Mas essa é a verdadeira fé? A verdade dura é esta: se você precisa de um milagre para acreditar, sua fé é falsa. Uma fé que depende de sinais não é fé verdadeira – é uma barganha espiritual. A fé autêntica não exige evidências; ela confia em Deus mesmo no silêncio, na escuridão e no sofrimento. Permanece firme mesmo quando as orações parecem não ser atendidas e os milagres não acontecem. Se sua fé desmorona quando a vida se torna difícil, então sua fé nunca esteve em Deus, ela estava naquilo que você esperava que Ele fizesse. Esse é o desafio das leituras de hoje.

Na Primeira Leitura (Jonas 3,1-10), vemos uma cidade que se arrepende sem precisar de um milagre. O povo de Nínive acredita imediatamente na mensagem de Jonas, e sua fé os leva à ação: “Vendo Deus as suas obras, como se converteram de seu mau caminho, Deus se arrependeu do mal que tinha ameaçado fazer-lhes e não o fez” (Jn 3,10). Eles não tiveram visões, não viram sinais sobrenaturais—apenas ouviram o aviso de um profeta. Sua fé não se baseava em milagres, mas na confiança e na obediência. A palavra hebraica שׁוּב (shuv), que significa “voltar” ou “se arrepender”, é central nessa passagem. A verdadeira fé não consiste em exigir sinais de Deus, mas em voltar-se para Ele, confiando que Seus caminhos são os corretos, mesmo quando não vemos provas imediatas.

O Salmo Responsorial 50(51) reforça essa mensagem, mostrando que a fé autêntica leva a uma mudança radical. O salmista não pede milagres; ele pede um coração puro: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido” (Sl 50,12). Muitos buscam sinais externos, mas esquecem que o maior milagre é um coração transformado. Quem realmente crê não espera milagres para obedecer a Deus – segue a Deus porque Ele é Deus, e não porque Ele realiza sinais.

No Evangelho (Lucas 11,29-32), Jesus confronta aqueles que buscam sinais: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas” (Lc 11,29). O contexto histórico desse trecho é que muitos judeus da época esperavam um Messias que provasse seu poder por meio de grandes milagres. Queriam prodígios espetaculares, como os realizados por Moisés ou Elias. Mas Jesus se recusa a jogar esse jogo. O único sinal que Ele promete é o sinal de Jonas, que se refere à Sua morte e ressurreição. Jonas ficou três dias no ventre do peixe antes de ser “trazido de volta à vida”; da mesma forma, Jesus passaria três dias no túmulo antes de ressuscitar. Esse é o maior sinal de quem Ele realmente é. Mas Jesus deixa claro: quem busca a Deus de verdade não precisa de sinais. O povo de Nínive se converteu sem milagres. A Rainha do Sul viajou de longe para ouvir a sabedoria de Salomão sem exigir prodígios. Mas muitos da geração de Jesus, mesmo vendo Seus milagres, ainda não acreditaram.

A palavra grega πίστις (pistis), que significa “fé”, não se refere apenas à crença intelectual, mas significa confiança, compromisso e lealdade. A fé não se trata de ver milagres; trata-se de permanecer fiel mesmo quando não se vê nada. O que podemos aprender com isso hoje?

1. A fé não é um contrato com Deus – Infelizmente, muitas pessoas tratam Deus como um parceiro de negócios: “Se fizeres isso por mim, então eu acreditarei em Ti.” Isso não é fé; é negociação. A fé autêntica segue a Deus sem exigir garantias.

2. O maior milagre é uma vida transformada – Muitos correm atrás de visões, curas e experiências sobrenaturais. Mas o verdadeiro teste da fé não é se vemos milagres, mas se somos convertidos. Um coração verdadeiramente transformado é muito mais milagroso do que uma cura física.

3. O silêncio de Deus não significa Sua ausência – Às vezes, as pessoas se sentem distantes de Deus porque não experimentam respostas dramáticas às suas orações. Mas a verdadeira fé confia que Deus está agindo, mesmo quando Ele está em silêncio. Se nossa fé vacila quando não vemos milagres, então nossa fé estava nos milagres, não em Deus.

4. Não seja um consumidor espiritual – Muitos seguem a Deus apenas quando isso lhes convém. Querem bênçãos, prosperidade e proteção, mas não querem entrega, sacrifício ou confiança. Isso não é fé; é interesse próprio disfarçado de religião.

Caríssimos em Cristo, no final de nossas vidas, Deus não perguntará quantos milagres testemunhamos. Ele perguntará: Você confiou em Mim mesmo quando não viu nada? Você Me seguiu mesmo quando não recebeu o que queria? Você Me amou pelo que Eu sou, e não apenas pelo que Eu poderia fazer por você?

Se sua fé depende de milagres, ela não é verdadeira fé. Mas se você pode caminhar na escuridão e ainda confiar na Luz, então sua fé é autêntica, pois “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20,29).

Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não fecheis os vossos corações! (Sl 95,7)