A ALIANÇA DE DEUS VS. AS EXPECTATIVAS DA NIGÉRIA: ESTAMOS ENXERGANDO CLARAMENTE?
Primeira Leitura: Gênesis 9,1-13
Salmo Responsorial: Sl 101(102),16-21.29.22-23
Evangelho: Marcos 8,27-33
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Há um contraste marcante entre as promessas de Deus e as expectativas humanas. A humanidade deseja resultados imediatos, prosperidade visível e sucesso sem esforço, enquanto Deus frequentemente opera por meio de processos, disciplina e transformação. Essa desconexão tem levado a frustração, fé mal colocada e desilusão, não apenas no nível pessoal, mas também em escala nacional. Na Nigéria, onde a retórica religiosa e política frequentemente é carregada de grandes declarações sobre o favor divino, há uma expectativa de que as mudanças devem ocorrer instantaneamente, o sofrimento não deve fazer parte do caminho e as bênçãos de Deus devem sempre ser visíveis e materiais. No entanto, as Escrituras mostram que as alianças de Deus não são fórmulas mágicas para o sucesso, mas convites à fidelidade, à perseverança e ao tempo divino. A verdadeira pergunta é: os nigerianos enxergam claramente as promessas de Deus, ou são como Pedro – reconhecendo Cristo, mas rejeitando o quadro completo de Sua missão?
Essa luta não é exclusiva da Nigéria. O povo judeu frequentemente interpretava erroneamente as alianças de Deus, porque focava nos benefícios mais do que nas responsabilidades. O termo hebraico בְּרִית (berit), que significa “aliança”, era central para a identidade judaica, mas muitos israelitas falhavam em perceber que a aliança exigia não apenas bênçãos divinas, mas também obediência e confiança humana. Eles esperavam um Messias vitorioso, restauração nacional imediata e um reino terreno, mas o plano de Deus era muito maior, exigindo fé e perseverança ao longo de gerações. Eles viam a aliança, mas não claramente.
Essa temática está fortemente presente na Primeira Leitura (Gênesis 9,1-13), onde Deus estabelece uma aliança com Noé após o dilúvio. Esse foi um momento de segurança divina, no qual Deus coloca o arco-íris como um sinal de Sua fidelidade. No entanto, essa aliança não significava o fim das lutas humanas. O dilúvio havia eliminado o mal do mundo, mas não havia mudado a natureza humana. A expectativa poderia ser que o mundo após o dilúvio fosse livre do pecado, mas a humanidade continuou a lutar contra a corrupção, como visto mais tarde na própria descendência de Noé. Essa é a mesma ilusão que persiste na Nigéria, onde muitos assumem que as promessas divinas devem automaticamente levar à prosperidade nacional, paz e transformação, mas a realidade da corrupção e instabilidade ainda permanece.
O arco-íris não sinalizou uma utopia instantânea, mas um chamado à confiança na misericórdia de Deus, assim como as inúmeras declarações proféticas sobre a Nigéria não garantem um sucesso automático, mas exigem responsabilidade nacional, conversão moral e respeito pelo processo divino. Os nigerianos veem a promessa de um país melhor, mas a enxergam claramente? Ou são como aqueles que acreditam na aliança de Deus, mas falham em viver de acordo com suas exigências?
Essa mesma tensão aparece no Salmo 102, onde o salmista reconhece a fidelidade eterna de Deus, apesar do sofrimento contínuo. O salmo diz: “Do alto do céu, o Senhor olhou para a terra.” (Salmo 102,19), uma garantia de que Deus vê a dor e as lutas do Seu povo. No entanto, assim como no tempo de Noé, a recordação de Deus não significa alívio instantâneo, mas um processo de intervenção divina no Seu tempo e maneira. Muitos nigerianos acreditam que Deus intervirá nos problemas da nação, mas se recusam a reconhecer que a intervenção divina frequentemente exige responsabilidade humana, disciplina e perseverança. O salmista não reclama que Deus tenha esquecido Sua aliança, mas sim reconhece que Deus age na história, chamando Seu povo a confiar em Seu plano maior.
Esse tema atinge seu clímax no Evangelho (Marcos 8,27-33), onde Jesus desafia Seus discípulos com uma pergunta: “Quem dizeis que eu sou?” Pedro, em um momento de revelação, responde: “Tu és o Cristo.” Mas logo depois, Jesus começa a revelar o quadro completo que o Messias deve sofrer e morrer. Pedro fica chocado, ofendido e resistente. Suas expectativas de um Messias triunfante não correspondiam à realidade de um Salvador sofredor. A palavra grega ἐπιτιμάω (epitimaō), que significa “repreender, corrigir severamente”, é usada tanto quando Pedro repreende Jesus quanto quando Jesus repreende Pedro. Isso mostra que Pedro achava que entendia o plano de Deus, mas na verdade o via através das expectativas humanas.
Essa é exatamente a questão na cultura religiosa e política da Nigéria. Muitos reconhecem que Deus está no controle, que Ele tem planos para a nação e que Ele é fiel, mas falham em aceitar a realidade de que a mudança requer sofrimento, disciplina e sacrifício. Assim como Pedro queria um Messias sem a Cruz, muitos nigerianos querem prosperidade sem responsabilidade, mudança sem sacrifício e intervenção divina sem transformação moral. A repreensão de Pedro é uma repreensão para cada nação, igreja e indivíduo que abraça meias-verdades sobre os caminhos de Deus.
A lição teológica é clara. As promessas de Deus são certas, mas se cumprem no tempo e na maneira Dele, não na nossa. Assim como Noé teve que esperar pela terra seca, assim como o salmista teve que confiar na fidelidade de Deus apesar do sofrimento, e assim como Pedro teve que aprender que a vitória de Cristo veio através do sofrimento, assim também os nigerianos devem entender que a mudança nacional não acontecerá através de declarações vazias, mas através da perseverança fiel e da transformação moral.
Essa mensagem desafia as expectativas modernas de sucesso instantâneo, milagres rápidos e um evangelho de conveniência. Muitos nigerianos estão ansiosos para reivindicar profecias de grandeza, mas rejeitam a cruz da disciplina, integridade e trabalho árduo. Mas não há ressurreição sem cruz, não há glória sem sofrimento e não há verdadeira transformação sem perseverança.
Isso se aplica a todas as áreas da vida. Muitos esperam avanços pessoais, sucesso profissional e progresso nacional sem abraçar o processo que Deus determinou. Alguns esperam que Deus conserte a Nigéria enquanto se recusam a lutar contra a corrupção, manter a justiça ou buscar a retidão. Assim como Pedro teve que aprender que os caminhos de Deus não são os caminhos dos homens, assim também cada nigeriano deve reconhecer que a verdadeira prosperidade não é sobre riqueza e poder, mas sobre abraçar o difícil, mas recompensador, caminho da fidelidade e transformação.
O desafio diante de nós é simples: estamos enxergando claramente? Compreendemos realmente as promessas de Deus, ou somos como Pedro, agarrando-nos a meias-verdades? Esperamos o arco-íris da bênção sem o dilúvio da purificação? Estamos prontos para abraçar a visão completa do plano de Deus para a Nigéria, mesmo quando ela não se alinha às expectativas humanas? Assim como Jesus repreendeu Pedro, Ele repreende toda nação que busca prosperidade sem retidão, mudança sem sacrifício e sucesso sem submissão ao propósito maior de Deus.
A pergunta permanece: Permitiremos que Deus corrija nossa visão para finalmente enxergarmos claramente, ou continuaremos tropeçando na ilusão de promessas que nunca foram feitas para serem cumpridas nos termos humanos?
“Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não endureçais os vossos corações!” (Sl 95,7)
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil.
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