VOZ DO LOGOS (5): REFLEXÃO/HOMILIA PARA A QUINTA-FEIRA DA 6ª SEMANA DO TEMPO COMUM, ANO I

A ALIANÇA DE DEUS VS. AS EXPECTATIVAS DA NIGÉRIA: ESTAMOS ENXERGANDO CLARAMENTE?

Primeira Leitura: Gênesis 9,1-13
Salmo Responsorial: Sl 101(102),16-21.29.22-23
Evangelho: Marcos 8,27-33
________________________________________

Há um contraste marcante entre as promessas de Deus e as expectativas humanas. A humanidade deseja resultados imediatos, prosperidade visível e sucesso sem esforço, enquanto Deus frequentemente opera por meio de processos, disciplina e transformação. Essa desconexão tem levado a frustração, fé mal colocada e desilusão, não apenas no nível pessoal, mas também em escala nacional. Na Nigéria, onde a retórica religiosa e política frequentemente é carregada de grandes declarações sobre o favor divino, há uma expectativa de que as mudanças devem ocorrer instantaneamente, o sofrimento não deve fazer parte do caminho e as bênçãos de Deus devem sempre ser visíveis e materiais. No entanto, as Escrituras mostram que as alianças de Deus não são fórmulas mágicas para o sucesso, mas convites à fidelidade, à perseverança e ao tempo divino. A verdadeira pergunta é: os nigerianos enxergam claramente as promessas de Deus, ou são como Pedro – reconhecendo Cristo, mas rejeitando o quadro completo de Sua missão?

Essa luta não é exclusiva da Nigéria. O povo judeu frequentemente interpretava erroneamente as alianças de Deus, porque focava nos benefícios mais do que nas responsabilidades. O termo hebraico בְּרִית (berit), que significa “aliança”, era central para a identidade judaica, mas muitos israelitas falhavam em perceber que a aliança exigia não apenas bênçãos divinas, mas também obediência e confiança humana. Eles esperavam um Messias vitorioso, restauração nacional imediata e um reino terreno, mas o plano de Deus era muito maior, exigindo fé e perseverança ao longo de gerações. Eles viam a aliança, mas não claramente.

Essa temática está fortemente presente na Primeira Leitura (Gênesis 9,1-13), onde Deus estabelece uma aliança com Noé após o dilúvio. Esse foi um momento de segurança divina, no qual Deus coloca o arco-íris como um sinal de Sua fidelidade. No entanto, essa aliança não significava o fim das lutas humanas. O dilúvio havia eliminado o mal do mundo, mas não havia mudado a natureza humana. A expectativa poderia ser que o mundo após o dilúvio fosse livre do pecado, mas a humanidade continuou a lutar contra a corrupção, como visto mais tarde na própria descendência de Noé. Essa é a mesma ilusão que persiste na Nigéria, onde muitos assumem que as promessas divinas devem automaticamente levar à prosperidade nacional, paz e transformação, mas a realidade da corrupção e instabilidade ainda permanece.

O arco-íris não sinalizou uma utopia instantânea, mas um chamado à confiança na misericórdia de Deus, assim como as inúmeras declarações proféticas sobre a Nigéria não garantem um sucesso automático, mas exigem responsabilidade nacional, conversão moral e respeito pelo processo divino. Os nigerianos veem a promessa de um país melhor, mas a enxergam claramente? Ou são como aqueles que acreditam na aliança de Deus, mas falham em viver de acordo com suas exigências?

Essa mesma tensão aparece no Salmo 102, onde o salmista reconhece a fidelidade eterna de Deus, apesar do sofrimento contínuo. O salmo diz: “Do alto do céu, o Senhor olhou para a terra.” (Salmo 102,19), uma garantia de que Deus vê a dor e as lutas do Seu povo. No entanto, assim como no tempo de Noé, a recordação de Deus não significa alívio instantâneo, mas um processo de intervenção divina no Seu tempo e maneira. Muitos nigerianos acreditam que Deus intervirá nos problemas da nação, mas se recusam a reconhecer que a intervenção divina frequentemente exige responsabilidade humana, disciplina e perseverança. O salmista não reclama que Deus tenha esquecido Sua aliança, mas sim reconhece que Deus age na história, chamando Seu povo a confiar em Seu plano maior.

Esse tema atinge seu clímax no Evangelho (Marcos 8,27-33), onde Jesus desafia Seus discípulos com uma pergunta: “Quem dizeis que eu sou?” Pedro, em um momento de revelação, responde: “Tu és o Cristo.” Mas logo depois, Jesus começa a revelar o quadro completo que o Messias deve sofrer e morrer. Pedro fica chocado, ofendido e resistente. Suas expectativas de um Messias triunfante não correspondiam à realidade de um Salvador sofredor. A palavra grega ἐπιτιμάω (epitimaō), que significa “repreender, corrigir severamente”, é usada tanto quando Pedro repreende Jesus quanto quando Jesus repreende Pedro. Isso mostra que Pedro achava que entendia o plano de Deus, mas na verdade o via através das expectativas humanas.

Essa é exatamente a questão na cultura religiosa e política da Nigéria. Muitos reconhecem que Deus está no controle, que Ele tem planos para a nação e que Ele é fiel, mas falham em aceitar a realidade de que a mudança requer sofrimento, disciplina e sacrifício. Assim como Pedro queria um Messias sem a Cruz, muitos nigerianos querem prosperidade sem responsabilidade, mudança sem sacrifício e intervenção divina sem transformação moral. A repreensão de Pedro é uma repreensão para cada nação, igreja e indivíduo que abraça meias-verdades sobre os caminhos de Deus.

A lição teológica é clara. As promessas de Deus são certas, mas se cumprem no tempo e na maneira Dele, não na nossa. Assim como Noé teve que esperar pela terra seca, assim como o salmista teve que confiar na fidelidade de Deus apesar do sofrimento, e assim como Pedro teve que aprender que a vitória de Cristo veio através do sofrimento, assim também os nigerianos devem entender que a mudança nacional não acontecerá através de declarações vazias, mas através da perseverança fiel e da transformação moral.

Essa mensagem desafia as expectativas modernas de sucesso instantâneo, milagres rápidos e um evangelho de conveniência. Muitos nigerianos estão ansiosos para reivindicar profecias de grandeza, mas rejeitam a cruz da disciplina, integridade e trabalho árduo. Mas não há ressurreição sem cruz, não há glória sem sofrimento e não há verdadeira transformação sem perseverança.

Isso se aplica a todas as áreas da vida. Muitos esperam avanços pessoais, sucesso profissional e progresso nacional sem abraçar o processo que Deus determinou. Alguns esperam que Deus conserte a Nigéria enquanto se recusam a lutar contra a corrupção, manter a justiça ou buscar a retidão. Assim como Pedro teve que aprender que os caminhos de Deus não são os caminhos dos homens, assim também cada nigeriano deve reconhecer que a verdadeira prosperidade não é sobre riqueza e poder, mas sobre abraçar o difícil, mas recompensador, caminho da fidelidade e transformação.

O desafio diante de nós é simples: estamos enxergando claramente? Compreendemos realmente as promessas de Deus, ou somos como Pedro, agarrando-nos a meias-verdades? Esperamos o arco-íris da bênção sem o dilúvio da purificação? Estamos prontos para abraçar a visão completa do plano de Deus para a Nigéria, mesmo quando ela não se alinha às expectativas humanas? Assim como Jesus repreendeu Pedro, Ele repreende toda nação que busca prosperidade sem retidão, mudança sem sacrifício e sucesso sem submissão ao propósito maior de Deus.

A pergunta permanece: Permitiremos que Deus corrija nossa visão para finalmente enxergarmos claramente, ou continuaremos tropeçando na ilusão de promessas que nunca foram feitas para serem cumpridas nos termos humanos?

“Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não endureçais os vossos corações!” (Sl 95,7)


Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil.
📧 nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com


Você já rezou o seu terço hoje?

NEVER MISS AN UPDATE AGAIN.

Subscribe to latest posts via email.


Chinaka Justin Mbaeri

A staunch Roman Catholic and an Apologist of the Christian faith. More about him here.

View all posts
Subscribe
Notify of
guest

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

0 Comments
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x

Discover more from Fr. Chinaka's Media

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading