ESTAMOS CONSTRUINDO TORRES AMBICIOSAS OU CARREGANDO CRUZES?
Primeira Leitura: Gênesis 11,1-9
Salmo Responsorial: 32(33):10-15
Evangelho: Mark 8:34-9:1
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A ambição humana é uma força que impulsiona as civilizações. Desde as grandiosas pirâmides do Egito até os imponentes arranha-céus das cidades modernas, os seres humanos sempre buscaram construir, conquistar e se elevar. O desejo de grandeza está enraizado na natureza humana, mas quando essa ambição é perseguida sem referência a Deus, ela leva à autoexaltação, divisão e, por fim, destruição. Hoje, muitos buscam “construir suas próprias torres” – estabelecer sucesso, riqueza, poder e influência, mas frequentemente sem levar Deus em consideração. Vivemos na era da autopromoção, onde indivíduos e nações buscam reconhecimento, deixando Deus como uma mera nota de rodapé em seus grandes projetos. As leituras de hoje nos apresentam essa realidade – questionando nossa ambição de autoexaltação e autossuficiência, enquanto nos convidam a abraçar a cruz e nos render à vontade de Deus.
Na Primeira Leitura (Gênesis 11,1-9), temos um dos exemplos mais conhecidos de ambição humana desordenada – a construção da Torre de Babel. O povo, unido em orgulho e soberba, declarou: “Vamos construir para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue ao céu e tornemos nosso nome célebre” (Gn 11,4). A frase hebraica “נַעֲשֶׂה לָּנוּ שֵׁם” (na’aseh lanu shem), que significa “façamos um nome para nós”, revela a motivação central por trás desse projeto – glorificação pessoal em vez de obediência a Deus. Em vez de confiarem no plano divino, tentaram estabelecer segurança e grandeza por conta própria. Mas Deus “desceu” e confundiu suas línguas, dispersando-os pela terra. Essa ação não foi apenas um castigo; foi uma correção, um lembrete de que o orgulho humano leva à divisão, enquanto a submissão a Deus conduz à verdadeira unidade.
Esse mesmo tema está presente no Salmo Responsorial (Salmo 32,10-15), que declara: “O Senhor desfaz os planos das nações e frustra os projetos dos povos”. Isso ecoa o destino de Babel, mostrando que não importa quão grandiosos sejam os planos humanos, se não estiverem enraizados na vontade de Deus, acabarão em fracasso. O salmo nos lembra que a verdadeira bênção pertence não àqueles que fazem um nome para si, mas àqueles que confiam no nome do Senhor. O termo hebraico “בָּרוּךְ” (barukh), que significa “abençoado”, refere-se não apenas à prosperidade material, mas a um estado de favor divino. Os construtores de Babel buscavam sua própria bênção, enquanto o salmista declara que a verdadeira bênção vem apenas de Deus.
Jesus leva essa lição ainda mais longe no Evangelho (Marcos 8,34-9,1), quando confronta os discípulos com o custo radical do discipulado. Ele diz: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Isso é uma inversão completa da ambição humana. Em vez de autoexaltação, Jesus chama para a autonegação; em vez de construir uma torre para alcançar o céu, Ele chama para a disposição de perder a própria vida.
A palavra grega “ἀπαρνέομαι” (aparneomai), que significa “negar ou renunciar a si mesmo”, é essencial aqui. Isso não se trata apenas de abrir mão de pequenos prazeres ou fazer sacrifícios simbólicos, mas de renunciar ao controle da própria vida, à ambição pessoal e à independência orgulhosa. Os construtores de Babel queriam estar no controle do próprio destino, mas Jesus ensina que o verdadeiro discipulado significa entregar tudo a Deus.
Jesus também pergunta: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” O termo grego “ζημιόω” (zēmioō), que significa “sofrer perda ou ser prejudicado”, é usado aqui para descrever a destruição irreversível da alma quando a ambição mundana tem prioridade sobre Deus. Os homens de Babel construíram para ganhar o mundo, mas perderam tudo. Hoje, muitos perseguem carreiras, riqueza, status e até poder político à custa de suas almas. O desejo de sucesso muitas vezes cega as pessoas para a realidade de que apenas o que é feito para Deus permanece.
Em contraste, Jesus fala daqueles que “perdem sua vida por causa Dele e do Evangelho”. A palavra grega “ψυχή” (psychē), que significa “alma” ou “vida”, mostra que Jesus está falando de algo mais profundo do que a mera sobrevivência física. Trata-se de onde se encontra a verdadeira identidade e propósito de uma pessoa. Os construtores de Babel tentaram garantir a vida por meio de conquistas, mas Jesus ensina que a verdadeira vida só é encontrada na entrega total a Ele.
Essas lições continuam extremamente relevantes no mundo atual. Muitos ainda constroem torres de ambição – buscando sucesso, status e influência, enquanto negligenciam o chamado mais profundo para a fé e a obediência. As redes sociais estão repletas de pessoas tentando “fazer um nome para si mesmas”, buscando validação através de curtidas, seguidores e reconhecimento. Nações se levantam e caem, cada uma tentando estabelecer sua supremacia, mas no final, apenas o que está enraizado em Deus permanece. Em todo o mundo, as pessoas perseguem riquezas e poder, mas a corrupção, a instabilidade e a decadência moral persistem. A corrida pelo topo muitas vezes deixa as pessoas vazias, quebradas e espiritualmente perdidas.
Hoje, Jesus nos chama a rejeitar a tentação de construir torres para nossa própria glória e, em vez disso, abraçar a cruz. A cruz representa rendição, serviço e sacrifício – valores que vão contra a obsessão do mundo pelo sucesso e pelo poder. Carregar a cruz significa confiar em Deus, mesmo quando o caminho leva ao sofrimento. Significa escolher a humildade em vez do orgulho, o serviço em vez da autopromoção e a recompensa eterna em vez do ganho temporário.
O desafio diante de nós é claro: Estamos construindo torres ou carregando cruzes? Estamos nos esforçando para fazer um nome para nós mesmos, ou estamos rendendo nossas ambições ao plano maior de Deus? Estamos buscando sucesso às custas de nossas almas, ou estamos dispostos a perder o mundo por amor a Cristo?
Os construtores de Babel escolheram a autoexaltação e foram dispersos; os discípulos de Cristo escolheram a autonegação e foram reunidos no Reino de Deus. A decisão é nossa: Perseguiremos a grandeza longe de Deus, ou tomaremos a cruz e O seguiremos?
“Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não endureçais os vossos corações!” (Sl 95,7)
Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil.
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